Os mitos que a internet replica sobre o que seria “obrigatório” nos carros brasileiros x a realidade cultural e econômica.
Todos os dias aparecem canais na rede sobre carros; alguns muito bons; outros, formatos e narrativas à parte, me parecem que só repetem um checklist, formatado neste ecossistema. A ausência destes itens no veículo analisado “desmerecem” o mesmo. Vamos ver se são válidas as críticas ou mera repetição “tipo manada”. E confrontá-las com a nossa realidade.
Injeção Direta. Sem dúvida, uma tecnologia de ponta, que pode reduzir níveis de poluentes emitidos pelo motor. Porém, boas unidades não possuem este item, como o três cilindros da GM ou o 1.5 Turbo da Chery. Podem perder em desempenho e emissão, sim. Muito pouco, aliás. Mas, lá na frente, a manutenção deles será uma bomba muito menor dos que os “injetados”, que apresentam defeitos a médio / longo prazo, por conta, dentre outros, da qualidade da gasolina ou mesmo pelo simples uso do Etanol.
Turbo. Sem dúvida, a saída para se emitir menos poluentes e proporcionar força e economia a um motor. Bons carros, porém resistem ainda com motor aspirado convencional. Eles vão deixar o 2º ou 3º proprietário muito menos preocupados com a manutenção.
Turbo e Injeção Direta são a saída viável (o limite?) para os motores a combustão interna. Depois disso, virão os elétricos. Porém a manutenção, bem como o controle da qualidade do combustível que entram nestes motores precisam que ser rigorosos (quantos o fazem ?).
Vale lembrar, que a reboque de um turbo com Injeção Direta, tem a 2ª bomba de combustível; os bicos injetores (mais sensíveis e caros); o Intercooler; mais e mais sensores...uma potencial bomba à vista para quem está com este carro lá pelos seus 80.000 Km...
16 valvulas. Nos anos 90, o termo, por si só causava frisson. Virou “necessidade absoluta” para motores que queiram apresentar bom rendimento; vem a FIAT e lança o ótimo Firefly, de 8 válvulas...
CVT. Este câmbio tem fama, nos canais de resenha, de dar um comportamento de enceradeira ao carro. Trata-se de uma excelente solução, que proporciona mais economia de combustível em comparação a um cambio automático convencional. E, se fossem, de fato, tão chochos, por que Honda, Toyota, Nissan e Cia o adotaram? A calibragem deles está evoluindo muito. A resistência destes sistemas tAmbém é muito boa.
Rodas aro “trocentos”. Esteticamente, são realmente muito belas e deixam qualquer carro bem melhor. Aumentam também a estabilidade em situações limites. Porém, o conforto de rodagem cai bem; o consumo aumenta, amortecedores, molas, bandejas e buchas sofrem mais, o custo, obviamente, de rodas e pneus sobe também.
Teto Solar. É o típico item que todos adoram. Poucos usam, porém (estamos no Brasil Tropical Solar Maçarico e de cidades selvagens) e são mais sistemas, peças e borrachas para se desgastarem ou ressecarem.
Start Stop. Sua ausência é muito criticada; pode ajudar mesmo a reduzir poluentes; afinal, o carro fica no liga-e-desliga, o tempo todo no trânsito. Mas pergunta a quem está em um engarrafamento, sob um sol de 35 graus, o que acontece com a eficiência do ar condicionado, com este item funcionando...
Sempre que um sistema se torna mais complexo, a manutenção pode vir a ser mais cara. O motor de partida do start stop (quase um tanque de guerra, que tem que aguentar milhares e milhares de ciclos a mais), os sensores e a bateria (muito mais cara do que a convencional) não compensam, sob a ótica financeira (para reparo, manutenção e reposição) a redução no consumo. Realmente tem a questão ecológica. Então tá bom.
Borboletas atrás do volante. Sua ausência para carros automáticos é criticadíssima...eu pergunto...quantos motoristas usam e com que frequência ? Ok; é bem bacana reduzir a marcha em uma subida de serra ou em uma entrada de curva, “a la Senna”. Mas a imensa maioria vai mesmo é só pisar no acelerador e frear.
Carro Flex. Não chega a ser uma Jabuticaba; afinal, tem países que também aceitam o etanol em seus motores (por exemplo, o E85 nos EUA). Mas eu sou do time da opinião do Sr. João Gurgel. Uso de vastíssima área plantada (muitos e muitos quilos de cana rendem 1 litro de etanol) ; oscilações grandes de preço e safra; problemas no motor (sim; apesar da tecnologia ter sido implementada no inicio dos anos 80)...
Não acho que um carro puramente a gasolina seja inferior ao Flex. Sem contar que a central eletrônica, que gerencia a mistura de combustível admitido no motor fica doida. Por mais combinações Etanol/Gasolina/Outras Gororobas Brasileiras que estejam programadas na sua memória, o consumo tende a ser maior do que um motor puramente a gasolina.
Banco de Couro. Sem ele, um "carro não transmite requinte”....já pararam para ver o tecido de veludo do Omega CD ou de um Tempra HLX (para ficar no Brasil)? Ou o Alcântara de um belo esportivo ? Em termos de durabilidade, enquanto o couro resiste alguns anos, antes de ressecar e se “craquelar” (ok.; tem a hidratação...mas só reduz o prejuízo a médio prazo), estes tecidos, além de extremamente bonitos, bacanas, confortáveis e agradáveis ao toque serão retirados dos carros fósseis em 2050 e aproveitados, inteiros, em belos sofás...
Ah ! e o banco de couro atual, em uma bela jogada de marketing x benefício para a montadora é de “Couro Ecológico”; não passa de plástico (por enquanto de petróleo), com um nome mais “fit” aos dias de hoje.
Ar Digital. Sim. Quem não quer controlar a temperatura do interior de seu carro, com o visor (ou Multimidia) informando? O ar digital o faz mais precisamente. Porém, para carros simples, de entrada, basta girar o simples botão, que a gente sente se resfriou ou não. E depois não haverá uma placa eletrônica cara ou inexistente no mercado de reposição para se consertar...
Ausência de manta acústica sob o capô do motor. Dependendo do nível de ruído emitido pelo motor e agregados, não há necessidade. Versões de Civic e Renegade, por exemplo, não possuem este item.
Não estou fazendo um texto contra a tecnologia. Itens que aumentam o conforto, comodidade e rendimento de um carro são sempre muito bacanas. Somente os coloco sempre sob a perspectiva da manutenção do veículo a médio prazo. Procurei ler bastante, em canais sérios de oficinas de manutenção e reparação automotiva, a fim de me basear. O Brasileiro não troca de carro com frequência. Como fica aquele 2º dono, com tantos potenciais B.O.s?
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